sábado, 28 de maio de 2011

fotografias de Vader e história de Vader





Foi o segundo golpe que arrancou o olho a Vader. Está certo disso. Viu todas as gravações, obcecado com a forma como o seu rival de longa data, Stan Hanse, quase cegou o campeão mundial, com mais de 200 kg, em frente a 77 mil fãs no Tokyo Dome.

Ambos são conhecidos por serem agressivos, mas a agressividade estava num máximo absoluto naquela noite. O combate começou feio com o poderoso Texano a atacar Vader com um cabo antes do sino sequer tocar. O gigante ficou sedento de vingança e começou a atingir o seu adversário com os seus punhos de aço num dos cantos do ringue. Desesperado para sobreviver, Hansen usou um velho truque das lutas de bares e espetou duas vezes os dedos no olho direito de Vader.

O primeiro golpe deixou-o atordoado. O segundo fez com que o olho lhe saísse da cavidade ocular.

Se tudo tivesse acabado por ali, a luta teria ainda assim conquistado o seu devido lugar bizarro entre as mais vistas pelos fãs – o infame combate em que saltou um olho. Mas não foi isso que aconteceu. Atordoado e abalado, Vader cambaleou para trás, arrancou a máscara e - ninguém sabe bem como – voltou a meter o olho na cavidade ocular. E lutou durante mais 10 minutos.

“Foi puro instinto”, disse Vader ao WWE.com numa longa conversa sobre a sua vida extraordinária. “Voltei a pô-lo no sítio certo e inchou muito depressa, mas isso fez com que perdesse cerca de 30% da visão, parti todos os ossos da minha cavidade ocular e do nariz. Tive que sujeitar-me a uma cirurgia reconstrutiva. Tudo aquilo deixo-me fulo”.

Este é o tipo de história que queremos ouvir quando falamos com Vader, mas a sua história não é esse tipo de história. Não totalmente, pelo menos. Na verdade, é a história de como um miúdo chamado Leon White se tornou um famoso campeão mundial de wrestling conhecido como Vader e as dificuldades que teve que ultrapassar para voltar a ser Leon White.

Tudo começou nos anos 60 na perigosa zona de Los Angeles conhecida como South Central. Leon foi criado lá, e disse: “ali, ou cresces rapidamente ou és consumido”.

A sua infância foi dura. Uma ocasião, dois homens entraram-lhe em casa pela janela de um dos quartos, quando Leon e a irmã estavam sozinhos em casa. White agarrou a mão da irmã em pânico e correram juntos para casa de um vizinho, onde chamaram a polícia e os pais. Foi um momento traumatizante, mas acabou por não ter consequências graves.

“Lembro-me do meu pai chegar a casa, depois tirou a caçadeira do armário, carregou e pô-la nas minhas mãos”, disse White. “Disse-me: ‘Se eles voltarem, sabes o que tens a fazer’, e depois voltou a sair. Eu tinha oito anos”.

Vader estava a crescer a olhos visto, mas muitas vezes o seu tamanho era uma desvantagem. Jogador de futebol americano talentoso, era demasiado forte para enfrentar crianças da sua idade, por isso foi forçado a entrar em jogos duros, com os miúdos mais velhos.

“Não gostava muito daquilo, mas acreditem que o salto de dois/três anos, em tão tenra idade, foi muito importante”, disse. “Fartei-me de levar porrada”.

Foram anos duros, mas fizeram com que White também se tornasse duro. Quando concluiu o ensino secundário na Escola Secundária Bell, em L.A., foi intensamente procurado por várias equipas da liga profissional, a nível nacional. A Universidade do Colorado ofereceu-lhe uma bolsa de estudos, onde foi duas vezes “All-American” antes de ter sido colocado nos Los Angeles Rams em 1978. O grandalhão jogou na Super Bowl XIV, mas uma lesão no joelho acabou prematuramente com a sua carreira passadas apenas duas temporadas. Depois disso, dedicou-se ao mercado imobiliário, mas o trabalho entediava-o.

Atleta exímio durante praticamente toda a sua vida, White desejava algo mais físico e agressivo, que naturalmente o levou ao wrestling profissional. Entrar foi fácil. O promotor da American Wrestling Association, Verne Gagne, acolheu o gigante demolidor, com os seus 200 kg e 1,96 metros, e viu nele uma grande riqueza de oportunidades.

Treinado brevemente pelo wrestler Olímpico Brad Rheingans, White era enorme e inexperiente, o que o tornava perigoso. Isso significava que só os veteranos mais experientes podiam entrar com ele no ringue. Durante seis meses, em 1985, Leon “Baby Bull” White era espancado alternadamente por tipos como o seu futuro rival, Stan Hansen, o gigante de 215 kg Jerry Blackwell e Bruiser Brody, que uma vez, de acordo com White, lhe bateu com tanta força com uma cadeira de aço que fico com uma marcação nas costas que dizia “Made in Milwaukee”.

“Não sei se estavam a ver se eu desistia, mas eles espancaram-me sem dó nem piedade”, admitiu.

Foi um período mau para White. Não tanto pelos espancamentos – isso aguentava ele bem, como já tinha provado – mas porque não estava a desenvolver o seu talento. Não começaria a aprender os truques para ser um executante sólido até 1987, quando foi mandado por Gagne para a Catch Wrestling Association de Otto Wanz, na Alemanha.

“Foi lá que aprendi a executar o meu primeiro golpe de wrestling”, disse Vader. “Lá pagava a dois árbitros para eles aparecerem no ringue antes do espectáculo para me mostrarem como fazer imobilizações, como usar as cordas”.

Usando agora o nome Bull Power, White tornou-se verdadeiramente forme, e ascendeu depressa ao topo da CWA, conquistando o campeonato daquela promoção poucos meses depois da sua estreia. O poder e agilidade de Vader começaram a chamar a atrair atenções (conseguia levantar 272 kg no ginásio e fazer um ‘dropkick’ em simultâneo”, disse) e o promotor da New Japan Pro-Wrestling, Antonio Inoki, reparou nisso.

Na altura, o membro do “Hall of Fame” esta a desenvolver uma personagem chamada Big Van Vader. Inspirado pelo vilão de uma BD Japonesa, Vader acabaria por completar o monstro que entrou no ringue usando um enorme capacete com picos e que emanava fumo. Era o evento principal que Inoki tinha considerado para Ultimate Warrior e Sid Vicious, mas ficou tão impressionado com o físico de White na Alemanha que lhe fez uma considerável oferta de dinheiro.

Vader estreou-se na NJPW no Inverno de 1987 como adversário surpresa de Inoki e espancou de tal forma a estrela que os espectadores presentes na bancada amotinaram-se. Numa fracção de segundos, tornou-se o vilão mais odiado do wrestling Japonês.

“Aquilo pegou fogo”, relembrou Vader. “Chegávamos aos hotéis e perseguiam-me. Esgotámos os espectáculos durante muito, muito tempo”.

Juntando uma personagem vendável e o tamanho de Vader e o lutador tornou-se uma sensação a nível mundial no final dos anos 80. Era tão dominante que conseguiu ser detentor, em simultâneo, dos grandes títulos na Alemanha e México. Mas Vader não era só um gorila com um capacete. Sabia lutar e resistir a lutas impiedosas – como provou no incidente em que quase perdeu um olho – o que lhe fez com que Ted Turner, da World Championship Wrestling, se interessasse por ele.

“Vi-o em alguns combates contra Stan Hansen no Japão”, disse o antigo funcionário da WCW e actual membro do “Hall of Fame” da WWE Jim Ross. “Era ágil e muito agressivo, por isso fomos buscá-lo”.



Vader tornou-se uma grande estrela na WCW, conquistando o título mais prestigiado da promoção em três ocasiões diferentes. Nos cinco anos que se seguiram, cimentou a sua reputação de um dos maiores super-pesos-pesados da indústria graças a rivalidades violentas com Sting e Ron Simmons. A sua brutalidade tornou-se lendária. Uma noite, aplicou um “powerbomb” em Cactus Jack contra o chão de betão, deixando-o inconsciente. Um ano depois, lesionou o ouvido de um homem numa luta selvagem na Alemanha.

Mas o que tornava Vader verdadeiramente fantástico – e devastador – era que apesar de toda a sua corpulência, ainda conseguia saltar do topo das cordas.

“Sempre achei que era mais atlético do que qualquer grandalhão que já tinha visto”, disse J.R.. “Quero dizer, tinha 200 kg e executava ‘moonsaults”.

Ainda assim, e apesar do seu sucesso na WCW, Vader recorda educadamente este período da sua carreira, mas seu grande paixão. Quando responde às perguntas, escolhe as palavras com cuidado como se parte dele não estivesse preparada para revelar ou recordar o passado. Refere combates lendários como “bastante bons” e arqui-inimigos como “tipos porreiros”. Quando Vader atribui o fim da sua passagem pela WCW ao regresso de Ric Flair e a chegada de Hulk Hogan, acrescenta rapidamente: “Não tenho quaisquer ressentimentos. Desejo o melhor a todos eles”.

Tudo aponta que estivesse a passar por mudanças profundas e isso foi admitido abertamente por Vader. À medida que continua a falar, torna-se claro o significado que o tempo que passou em Atlanta tem agora.

“Lutava para acabar com alguns maus hábitos”, confessou. “Bebia demasiado. Tinha muitas dores nos joelhos, nas costas e nos ombros e comecei a tomar demasiados comprimidos para as dores”.

Atleta desde a infância, os anos de Vader no campo de futebol americano e no ringue estavam a começar a fazer-se sentir. O joelho que tinha lesionado na universidade tinha-se tornado problemático, tornando o simples acto de viajar de espectáculo para espectáculo uma luta.

“As pessoas não se apercebem como é difícil viajar e estar sentado no mesmo sítio durante longos períodos de tempo quando se tem 200 kg”, disse Jim Ross. “Depois, tratar das lesões e ir à reabilitação, e entretanto continuar a ir ao ginásio e fazer dieta. É muito, muito difícil para um homem tão grande”.

O “Mastodon” tinha os seus problemas, mas ainda era um lutador tremendo que conseguia superar os melhores. E provou-o em 1996 quando veio para a WWE e espancou Superstars lendários como Shawn Michaels e Undertaker em eventos principais de pay-per-views. Apesar de nunca ter conquistado o Campeonato da WWE, o estilo duro que cultivou no Japão fez dele um competidor que todos seguiam avidamente.

“Ele preencheu um enorme vazio para nós, naquela altura”, relembrou Jim Ross. “Era o vilão assassino gigantesco que tinha grandes momentos”.

Depois de dois anos sólidos na WWE, Vader optou por terminar o contrato e voltar aos ringues do Japão. Com cerca de 40 anos, sabia que os combates no estrangeiro podiam ser brutais, mas as digressões duravam apenas algumas semanas. Forçou-se a fazer estas viagens internacionais e alcançou grande sucesso no país, mas os problemas acompanharam-no.

“Cheguei a um ponto em que, fisicamente, já não conseguia entrar num avião”, disse Vader. “Tomasse o que tomasse, bebesse o que bebesse – estava fisicamente impossibilitado de continuar”.

Diz-se que é preciso bater no fundo do poço, quando se tem um vício, antes de se conseguir recuperar. Para Vader, esse momento surgiu quando, em 2007, regressou à sua bela casa no Colorado, que estava agora vazia. A sua mulher tinha ido embora.

“Foi o ponto mais baixo da minha vida”, disse ao WWE.com. “Nessa altura apercebi-me que algo tinha que mudar. Ou morria tentar ou começava mesmo a viver”.



Esta é a parte da história em que Vader volta a ser Leon White e a transformação não foi fácil. Durante quase três anos, a sua vida transformou-se num inferno. Depois de abandonar os seus vícios sem qualquer ajuda, substituiu os dois joelhos, que infectaram e o forçaram a ficar acamado durante seis meses. Depois disso, tentou viajar até ao Japão para uma sessão de autógrafos e ficou inconsciente no avião. Vader ficou em coma durante 30 dias. Quando acordou, tinha perdido 50 kg e lutava para voltar a andar, mas para Vader, este foi o momento em que renasceu.

“Achava mesmo que depois de me portar mal durante tantos anos, desistia de tudo, passava mal durante umas semanas e ficava feliz e saudável?” disse. “Para mim, isso não fazia sentido. Se queres recuperar a tua vida, é isto que tens de fazer.

Se Vader soou introspectivo, é porque já contou antes esta história. Quando regressou ao Colorado depois de sair do coma, White contactou um grupo chamado Wounded Warrior Allience. Fundado por Dave Roever – um veterano que ficou gravemente ferido e desfigurado na Guerra do Vietname, quando uma granada explodiu na sua mão – a organização dá cursos de como falar em público, espiritualidade e reabilitação física aos soldados feridos em combate. “O exército Americano manda-me pessoas sem pernas para que eu as volte a pôr de pé”, explicou uma vez Roever.

Apesar da Alliance se destinar a veteranos militares, o grupo ouviu a história de White e reconheceu-o como aquilo que ele é – um guerreiro ferido. Foi convidado a participar no programa, no rancho do programa em Pueblo West, Colorado. A experiência mudou a sua vida.

“Estas pessoas fantásticas permitiram que me juntasse a elas no programa e ensinaram-me a dar o meu testemunho – e isso é que tem valor”, disse White.

Desde que completou o curso, Leon tornou-se porta-voz e conselheiro do grupo que se rege pela fé (White tornou-se também Cristão), partilhando a sua história com jovens que sobreviveram aos horrores da guerra e que estão marcados física e psicologicamente.

“Estas pessoas podem só ter um braço ou uma perna, podem ter sido alvejados no ombro ou no peito duas ou três vezes”, disse White. “O que eu faço com estes miúdos é ficar à frente deles e dizer-lhes que ao longo da minha carreira, e até hoje, já passei por 45 cirurgias, 19 concussões, os meus dois joelhos tiveram que ser substituídos, estive em coma durante 33 dias no Japão. ‘Se este velhote passou por isto tudo e consegue estar hoje aqui, então o que é que uma pessoa de 23 anos, com a vida inteira pela frente, pode fazer?’”

Além dos seus discursos motivacionais, o antigo campeão também ajuda os guerreiros com a reabilitação física, treina-os no ginásio com um programa concebido por White. É um trabalho importante que deu novamente a Leon um objectivo de vida e o ajudou a restabelecer as relações da sua vida – especificamente com o seu filho, Jesse.

“O Jesse é, sem qualquer sombra de dúvida, o amor da minha vida”, disse White, emocionado. “Não lhe deu a atenção que merecia durante muito tempo. A pessoa, o amigo e o pai que ele vê agora é substancialmente diferente da pessoa que era no final da minha carreira”.

Grande como o pai, Jesse foi uma estrela do futebol americano na Universidade do Oklahoma antes de uma lesão na anca ter arruinado a sua possibilidade de ter tido uma carreira na NFL. Depois disso transitou para os ringues, competindo no Japão, na mesma companhia que o pai criou recentemente – a Vader Time Productions. Em 2011, assinou um contrato de desenvolvimento com a WWE.

“Ele é muito, muito forte”, disse o fã acérimo dos Sooners e amigo da família, Jim Ross. “É comparável ao nível do John Cena e do Ezekiel Jackson – mas não é sóo Vader II. Pesa 107 kg e tem um tipo de corpo completamente diferente do do pai”.

No dia da sua entrevista, White preparava-se para ver o filho quando este se preparava para ir para Tampa, Florida, para começar a treinar. O pai não podia estar mais orgulhoso.

“O Jesse tem a minha força, mas é mais bonito do que todos os que estão na WWE”, acrescentou White. “E está bem casado. O que mais posso dizer?”

Falou sobre o futuro do filho no ringue, mas quando lhe foi perguntado pelo dele, White mostrou-se tímido. Ficou claro que as suas paixões mudaram. Apesar de ter admitido que estava na sua melhor forma física quando esteve na WWE, White consegue mudar de assunto e voltar a falar do trabalho que desenvolve com a Wounded Warriors Alliance.

“Quando chegamos ao coração destes miúdos, a sensação é equiparável a um combate com o Stan Hansen em frente a 77 mil pessoas, mas multiplicado por 10”, disse. “Se um destes miúdos disser, ‘se ele conseguiu, eu também consigo’. É só isso que interessa”

1 comentário:

  1. So existe um VADER, DARTH VADER.

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